O NOSSO SENTIMENTO DO "eu"

Num mundo cada vez populoso, com muitas cidades onde vivem mais de 10 milhões de habitantes, onde os estilos de vida, os hábitos de consumo e as rotinas tornam a vida das pessoas por vezes muito semelhantes entre si a questão da nossa IDENTIDADE (quem somos) e do nosso EU coloca-se cada vez mais.
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Nas sociedades muito estruturadas e organizadas, onde a Identidade das pessoas se traduz por números (do cartão de identidade, do passaporte, dos serviços de saúde, das finanças, da licença de condução, etc.), os indivíduos tendem a sentir-se desvalorizados na sua pessoalidade.
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"Actualmente, e em função das vertiginosas mudanças que se sucedem no âmbito sociopolítico-económico, a Identidade passou a ser uma preocupação de primeiro plano para todos em excepção. Cada um necessita interrogar-se muitas vezes sobre quem realmente é" - escrevem os psicanalistas espanhóis Léon e Rebeca Grinberg em "Identidade e Mudança" (ed.Climepsi, 1998).
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O sentimento de Identidade é, na verdade, o conhecimento de cada pessoa de que é uma endidade única, separada e distinta dos outros. A pessoa reconhece-se em torno da consciência do Eu, a qual inclui o corpo, a mente, as suas memórias, os seus saberes e todos os aspectos particulares de si mesmo e da sua história pessoal, incluindo a intrapsíquica.
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Este sentimento de Identidade e de identificação com os elementos que constituem a pessoa deve manter-se ao longo de toda a vida, mesmo sabendo-se que há mudanças, por vezes profundas, que alteram o seu aspecto e a sua expressão (físico, comportamental, etc.). Ou seja a pessoa deve sentir que é a mesma tanto com 10 anos de idade como com 50 anos. Deve haver um sentimento de continuidade e de unicidade em simultâneo com um sentimento de diferenciação relativamente a todos os outros indivíduos.
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Quando o sentimento de identidade se dilui
Em muitos casos clínicos patológicos observam-se perturbações de identidade. Nuns casos, identidades rígidas e pouco flexíveis. Noutros casos, identidades excessivamente débeis e fragmentadas.
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Estados esquizóides, estados de despersonalização, estados confusionais, estados senis, certas formas de esquizofrenia, paranóia e outras perturbações traduzem-se por problemas que afectam de uma maneira ou de outra a identidade.
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No centro de tudo isto reside o sentimento do EU. A noção do EU representa a "súmula dos sentimentos, emoções, impulsos, desejos, capacidades, talentos e fantasias do indivíduo, ou seja, todas essas forças e formações psíquicas que uma pessoa identifica como algo que lhe é próprio e lhe dá a sensação de "este sou eu" - clarifica P.Heimann (1951). Assim, a palavra EU "denota um conjunto de processos psicológicos tais como pensar, perceber, recordar e sentir". O EU é um sistema psíquico. É ele quem organiza e regula o Self, algo mais complexo.
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O self é um conceito intermédio colocado entre a psíque do indivíduo e a sua relação com os outros: o chamado self, sinónimo de personalidade. O self significa a pessoa total do indivíduo, incluindo o corpo e psique. E também inclui o conceito conhecido como Não Eu (aspectos intrapsíquicos da pessoa como o Super Eu).
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Toda esta complexidade da vida psíquica processa-se em dois grandes níveis: o consciente e o inconsciente. Neste, estão incluídos todos os fenómenos submersos da história intrapsíquica e nos processos de construção da mente (memória, emoções, pensamentos, etc.). Naquele, o consciente, processa-se o fenómeno da Consciência do Eu ou Autoconsciência, melhor ainda, a consciência da identidade psicossocial da personalidade, a consciência da capacidade de pensar e da governação dessa capacidade e a consciência da vida mental.