O CÓDIGO DAS EMOÇÕES

Não é o cérebro que sente emoções, como não é o cérebro que pensa.
Nunca dizemos “o meu cérebro sente” nem “o meu cérebro está a pensar”.
Somos nós, na totalidade do ser, que sentimos e pensamos.
Nós somos mais do que o nosso cérebro.
Somos mais do que a nossa mente.
Somos uma entidade integral, com uma personalidade multifacetada, onde os pensamentos, as memórias, os sentimentos e as emoções são provocados pelas experiências do viver e moldados pelas nossas relações com os outros.

Nelson S Lima

A emotividade é uma das características mais evidentes da espécie humana. O exercício de viver inclui uma ampla gama de estados emocionais que é única em todo o reino animal pela sua variedade, intensidade, extensão, profundidade, variabilidade e amplitude.

As emoções afectam toda a nossa vida: os pensamentos, os sonhos, as relações humanas, as decisões, as escolhas, etc. Invadem-nos a alma, o intelecto, o corpo. Atiçam a imaginação. Servem de tema e energia aos sonhos. Estão presentes em todas as formas de arte (na literatura, no cinema, no teatro, na dança, etc.). Na verdade, a vida humana sem as emoções seria excessivamente racional, mecânica, fria e descolorida.

Recentes estudos (J.LeDoux,1996) levam a acreditar que as emoções podem não estar tão distantes do pensamento e do intelecto como antigamente se pensava. Elas parecem ser produto de uma “sabedoria evolutiva” e revelam algum tipo de inteligência adicionado.

Primariamente, podemos admitir como seguro que as emoções têm um papel decisivo na sobrevivência. Um bom exemplo disso é a emoção do medo que permite que as pessoas sejam mais prudentes e corram menos riscos. Esta emoção protege-nos de nos lançarmos em acções que podiam fazer perigar a nossa vida. Com o medo aprendemos a perceber os limites.

Depois, vem uma outra função para as emoções: a social. Através das emoções somos mais capazes de estabelecer relações afectivas, cordiais e construtivas com os outros e daí resultarem benefícios para todos (cooperação, partilha, ajuda, etc.).

Através destes exemplos podemos concluir que as emoções existem nos seres humanos (e noutros animais) há muito tempo, executam tarefas de defesa, protecção e ajuda visando, afinal, a sobrevivência. A sua origem e a sua finalidade central são, por conseguinte, biológicas mas com um tremendo impacto nas restantes actividades mentais.

Isso explica porque as emoções acontecem, numa primeira fase, em níveis não conscientes. Elas são accionadas por processos de percepção rapidíssimos que apreendem as situações através de um sistema neurológico complexo e ditam as respostas necessárias adequadas a cada situação. Por isso é que primeiro sentimos as emoções e depois pensamos sobre as suas causas e sensações provocadas.

Esse é o papel sobretudo das chamadas emoções primárias, básicas ou primitivas pois estão também presentes em outros animais. Mas existem, no ser humano, emoções mais complexas (na verdade, parecendo ser uma mistura de emoções) que são provocadas por situações de natureza mais social. É o caso da vergonha. É uma das quatro emoções que estão ligadas à nossa auto-consciência (isto é, a consciência de quem somos). As outras três são o acanhamento, o orgulho e a altivez.

A vergonha é reconhecida como a emoção da inferioridade e tem um problema. Segundo diz Annie Emaux “o pior da vergonha é que quem a sente julga ser o único a tê-la” numa dada situação. É uma experiência muito pessoal e íntima, que arremete contra a nossa auto-confiança. Constantes experiências de vergonha na nossa vida podem destruir a auto-estima, tornar-nos tímidos e, por fim, empurrar-nos para comportamentos inibitórios (que nos inibem) e evitantes (fugas das situações).

É evidente que um pouco de vergonha não faz mal a ninguém. Pode até ser benéfico. O problema de se ter vergonha só se coloca como indesejável quando esta toma conta da nossa vida e nos impede de sermos felizes!

Teorias antigas

Apesar de fazerem parte da nossa natureza, desde mesmo antes de nascermos, as emoções só muito recentemente mereceram a atenção da ciência. Os conhecimentos que hoje temos desta matéria são muito vastos.

Existem diferentes abordagens no estudo das emoções. Conforme a perspectiva, o entendimento varia. Para uns, as emoções são reacções biológicas, próprias da nossa natureza animal. São mecanismos de sobrevivência, mesmo que tenham também funções sociais. Elas existem nos seres humanos pelas mesmas razões que existem em muito outros animais. Para outros são simplesmente estados mentais provocados pelo sistema nervoso em resultado de determinados de estímulos. Outros autores preferem afirmar que as emoções são formas de pensamento. Outras correntes sugerem que elas são formas de consciência do mundo, isto é, janelas através das quais apreendemos a realidade e a transformamos.

Durante muito tempo as emoções foram consideradas como elementos perturbadores do raciocínio e do comportamento. O filósofo Platão, que viveu cerca de 400 anos antes de Cristo, terá sido o primeiro teórico das emoções. Ele achava as emoções como algo desconcertante, opostas à razão, pelo que deveriam ser refreadas. Não foi o único a pensar assim. Cícero, filósofo romano que viveu mais tarde, entre os anos 106 e 43 antes de Cristo (a.C.), declarou que as emoções tinham o seu quê de estupidez e ignorância pois elas insurgiam-se contra a inteligência e a razão; por conseguinte, as emoções eram indesejáveis.

O estoicismo (uma doutrina filosófica que apareceu no século III a.C.) condenava as emoções, fazendo a apologia da razão e da inteligência. Os estóicos (os seguidores daquela doutrina) consideravam, todavia, quatro emoções fundamentais: o “desejo” (de bens futuros); a “alegria” (pelos bens presentes), o “temor” (pelos males futuros) e a “aflição” (pelos males presentes).

Já o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), que também dedicou alguma da sua atenção ao estudo das emoções, escreveu que “as emoções são todos aqueles sentimentos que mudam as pessoas de forma a afectar os seus julgamentos” e têm a ver ou com a dor ou com o prazer. E exemplificou: “Quando as pessoas se sentem amistosas e afáveis pensam um tipo de coisa; quando se sentem iradas e hostis, pensam em outra coisa completamente diferente, ou a mesma coisa com uma intensidade diferente”.

É curioso que apesar da distância no tempo (mais de 2 mil anos), alguns elementos que Aristóteles referiu sobre as emoções mantêm-se actuais. Disse ele:

a)As emoções estão ligadas ao pensamento.
b)Elas podem ser agradáveis ou desagradáveis.
c)Incitam à acção.
d)Baseiam-se nas avaliações que fazemos das situações.

O estudo mais acentuado do papel social das emoções teve a sua origem nas análises dos naturalistas dos séculos XVI e XVII. Reconhecia-se então que todo o homem procura os seus semelhantes não apenas para satisfazer interesses e necessidades mas também pelo prazer que lhes proporciona a convivência e familiaridade.

Santo Agostinho (1548-1600 d.C.) associou as emoções à sensibilidade do espírito humano, frisando o seu carácter activo e responsável: “todos os movimentos da alma não são mais do que vontade”. E interrogava-se: “O que é o medo e a tristeza senão vontade que repudia coisas não desejadas? Segundo a diversidade das coisas desejadas e evitadas, a vontade humana, ao permanecer atraído por elas ou ao rejeitá-las, transforma-se nesta ou naquela emoção”.

O que são as emoções?

As emoções são processos mentais não conscientes e, na sua essência, visam criar estados de prontidão para a acção. Por outro lado, constituem um “sistema de valores” que nos dispõe para um determinado tipo de comportamento. Desempenham uma função interna que está relacionada com a disposição de ânimo, afectando a vontade, a motivação e outras aptidões, e uma função social.
Analisando isoladamente, uma emoção é, pois, um estado mental e fisiológico associado a uma ampla variedade de sentimentos, pensamentos e comportamentos. Trata-se de um primeiro factor determinante do sentimento de bem-estar subjectivo e parece desempenhar um papel central em muitas actividades humanas.
Internamente a organização do sentimento do Eu (Consciência Existencial) depende da maneira como as emoções são reguladas.
Segundo o neurocientista António Damásio, as emoções constituem “um razoável barómetro do nosso bem-estar”. O mesmo cientista afirma que, dada a íntima relação das emoções com o corpo, “a finalidade das emoções é ajudar o organismo a manter a vida”.
Para o psiquiatra Augusto Cury, as emoções são campos de energia em contínuo estado de transformação: elas organizam-se, desorganizam-se e reorganizam-se num processo contínuo e inevitável. Discorda da ideia que possa haver um “equilíbrio emocional” e que isso seja saudável. Para o psiquiatra, “a emoção passa por inevitáveis ciclos diários mas é mais saudável quanto mais estável ela for e quanto mais perdurarem os sentimentos que alimentam o prazer e a serenidade”.

A hipocondria

Medo da morte ou medo da vida?

Ter medo de estar doente é uma reacção normal de qualquer pessoa. A saúde é um bem inestimável e faz parte da fórmula da felicidade. A pessoa saudável tem mais possibilidades de aproveitar todos os seus recursos (inteligência, talento, energia, curiosidade, etc.) para se sentir bem consigo mesma e com o mundo. A doença surge como um entrave, um desconforto e retira energia às pessoas impedindo-as de se sentirem naquele magnífico estado de equilíbrio a que chamamos “bem-estar”.

É por isso que as pessoas hoje se preocupam mais com a saúde. Há uma maior consciência ecológica não apenas em relação ao mundo mas em relação a si mesmas. A consciência ecológica, em meu entender, deve também significar dar mais atenção ao corpo e à mente para que da harmonia resultante o organismo funcione perfeitamente e possamos dar o nosso contributo para um mundo melhor.

Mas existem pessoas que levam ao extremo a sua preocupação com a saúde. Uma simples dor de cabeça provoca-lhes rapidamente um estado de ansiedade intenso pois ficam imaginando que pode ser sintoma de algo grave, talvez um tumor. Uma palpitação – que decorre geralmente de tensão nervosa – é interpretada como podendo ser uma doença cardíaca séria.

A pessoa que reage desta forma exagerada pode ser hipocondríaca, isto é, julga-se doente pois interpreta todas as sensações incómodas do corpo como avisos de que algo está funcionando mal.

Elas entram então num processo obsessivo-compulsivo, numa espiral de ansiedade que as faz correr assiduamente para hospitais e clínicas em busca de explicação para aquilo que temem estar sofrendo.

O problema ficaria resolvido se o doente hipocondríaco não fosse inseguro. Ele sabe que a medicina é falível, que um exame clínico pode estar errado e que os médicos podem equivocar-se. Se seus sintomas, descartada a hipótese de doença efectiva, persistirem, o hipocondríaco continua procurando respostas.

Ele centra geralmente a sua atenção num órgão ou num sistema em particular (frequentemente o cardiovascular ou o digestivo). Então, passa a perceber todas as sensações que aí têm origem. Ele não dá importância ao facto de que nosso organismo não é silencioso nem está inerte; há sempre pequenas sensações que ocorrem porque o organismo está em pleno e normal funcionamento.

O hipocondríaco teme essas sensações, entra em pânico perante uma ligeira náusea ou uma tímida palpitação. Ele as sente de forma ampliada (devido a sua alta concentração no problema) e atribui-lhes um significado clínico, fruto de sua imaginação ou da leitura obsessiva de revistas, livros e busca na internet sobre as sua(s) doença(s) imaginárias.

O que torna uma pessoa hipocondríaca?

Geralmente, o hipocondríaco tem inscrito na sua personalidade um traço de ansiedade generalizada que o torna numa pessoa em permanente estado de alerta.O seu sistema cerebral de vigilância (um mecanismo normal de sobrevivência) está muito activado e por isso vive observando o corpo a todo o momento.

Há hipocondríacos que devem esse traço de personalidade a factores hereditários. Outros a uma infância em que tenham vivido episódios de medo extremo, sofrido alguma doença real prolongada, terem convivido com familiares doentes crónicos ou terem assistido a alguma morte de alguém próximo.

Devido à sua natureza, a sua fixação no corpo e nos processos orgânicos, o hipocondríaco apresenta o seguinte perfil: preocupa-se com a hipótese meramente teórica de estar gravemente doente; interpreta erradamente as sensações e outros sinais de seu corpo; não confia nos exames clínicos e vive em estado depressivo devido à permanência do medo e da preocupação. Facilmente se conclui que sua vida não é fácil.

Na verdade, 4 a 5% dos pacientes na prática médica sofrem de hipocondria. Não é uma doença – prefiro considerá-la uma perturbação de ansiedade - mas, de facto, eles devem ser considerados doentes e como tal tratados para que seus medos deixem de os perturbar. O problema é que o hipocondríaco não é acessível. Ele está sempre a mudar de médico e não aceita apoio psicológico ou psiquiátrico pois considera-se uma pessoa em seu perfeito juízo. Mal ele sabe que o seu problema é mesmo de foro mental e que a psicoterapia poderia ajudá-lo bastante, eventualmente com a ajuda de um breve tratamento anti-depressivo.

Como enfrenta o médico um hipocondríaco?

O hipocondríaco torna-se facilmente numa pessoa aborrecida. Ele revela a sua desconfiança no apoio médico pois a notícia de que não tem doença alguma não o conforta. Ele continua desconfiado. Isto faz com que os médicos, por vezes, se fartem destas pessoas pois colocam em causa os seus conhecimentos e experiência, mesmo que aqueles não os exprimam verbalmente.Alguns médicos preferem evitar os seus doentes hipocondríacos e os tratam de forma ligeira e breve. O que aguça o problema. Outros poderão revelar alguma incapacidade e paciência para os ouvir.

Como estudioso da relação mente/corpo eu me permito sugerir aos médicos que tratem dos hipocondríacos como doentes que necessitam de ser abordados de forma diferenciada. Reparem: a maioria dos doentes com outras enfermidades confia plenamente na medicina e nos seus técnicos e se entregam nas suas mãos. Mas, e os hipocondríacos? Não reagem assim. Eles persistem crendo que estão doentes. Talvez seja útil deixar os hipocondríacos para a última consulta para lhes dar mais tempo. Nada como dar-lhes uma aula de medicina fazendo valer os muitos anos de estudo e prática médica para que o doente serene.

Psicossomática da hipocondria

No livro do médico Rudiger Dahlke, “A doença como símbolo” (ed. Cultrix) este escreve que “o corpo é o palco de acontecimentos desconhecidos da alma” e cita, a propósito, o escritor Peter Altenberg que afirma: “A doença é o grito de uma alma agredida”.

Talvez o hipocondríaco seja precisamente aquele que mais precisa meditar sobre aquelas duas máximas pois seu problema é psico-afectivo e não orgânico. Ele somatiza os seus medos, a sua angustia existencial. Ele quer viver plenamente mas o seu ego se retrai perante desafios cujas coordenadas desconhece. Ele tem dificuldade em se auto-conhecer e experimentar a aventura de viver. Ele recolhe-se em seu casulo. Ele preferiria regressar ao ventre da mãe onde se sentiu, em tempos, protegido. Ele é um assustado animal que se perdeu na floresta e desconhece o caminho do regresso.

E, assim, a hipocondria pode ser definida como uma perturbação de natureza psicossomática onde a mente angustiada exerce tão grande pressão sobre o organismo que as sensações mais inofensivas se transformam em medo. Não tanto o medo da morte mas, pior ainda, o medo da vida!
Nelson S Lima

Como nasce a personalidade

O que faz alguém de índole calma ter uma explosão de violência? Como surge a homossexualidade? Por que algumas pessoas se tornam líderes enquanto outras, igualmente inteligentes, têm um destino medíocre?

Explicar o comportamento humano em seus diversos aspectos - no círculo de amizades, no trabalho, no amor, na fé religiosa - sempre foi um desafio para psicólogos e cientistas. Até hoje, as pesquisas sobre o tema produziram duas correntes antagônicas, que contrapõem a natureza e o ambiente social. De um lado estão os defensores da tese de que todos nascem iguais e a personalidade é formada pela aprendizagem e pelas experiências pessoais. Do outro lado, acredita-se que os traços da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos.

Uma série de descobertas recentes terminou com essa discussão. A idéia de que só o ambiente ou só o DNA forma a personalidade foi substituída por outra mais flexível. Todo comportamento tem um componente genético, mas sua manifestação depende de factores ambientais. Sob essa visão, genética e sociedade interagem para moldar o jeito de ser de cada pessoa.

A revolução nos conceitos da chamada genética do comportamento, nome dado à ciência que estuda a influência dos genes na personalidade, ocorreu por causa dos avanços na engenharia genética e na biologia molecular. Os cientistas são capazes de fazer uma busca minuciosa em todo o genoma e encontrar regiões com genes capazes de influenciar o comportamento humano. Essas regiões podem ser identificadas em análises de amostras de sangue de irmãos ou familiares com os mesmos traços psicológicos. Já foram encontrados genes e regiões genômicas que tornam as pessoas mais vulneráveis a adoptar comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também já foram detectados genes relacionados com a orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo.

Os pesquisadores advertem que portar esses genes não significa que a pessoa necessariamente desenvolva o comportamento ligado a ele. Não existe determinismo genético, apenas predisposição. Os genes podem se expressar ou não. Alguns são ligados ou desligados pela própria dinâmica do genoma. Outros, pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que a pessoa vive.

Um estudo do Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres encontrou dois genes que actuam na libertação de neurotransmissores no cérebro. Esses genes são responsáveis pela depressão e pelas atitudes anti-sociais, mas só se manifestam em pessoas expostas a situações de grande stress, como perda de emprego ou morte de familiares.

Conclusão: ter predisposição genética à depressão não leva ninguém a ficar deprimido. O mesmo acontece com os distúrbios alimentares. Cientistas da Universidade da Carolina do Norte identificaram regiões genéticas similares em amostras de sangue de mais de 400 pacientes com anorexia ou bulimia. Os mesmos marcadores apareceram em pessoas sem os distúrbios, o que comprova a acção do ambiente.

Recentemente, investigadores do Instituto de Psiquiatria de Londres encontraram regiões do genoma que podem influenciar a inteligência. Um gene chamado LIMK1 produz uma proteína que ajuda a desenvolver a cognição espacial. As pessoas que têm esses genes levemente alterados também são inteligentes, mas não têm habilidades para desenho, por exemplo. Outro gene, o IGF2R, está associado à alta inteligência - a sua existência acarreta 4 pontos a mais no QI do portador.

A tendência para o suicídio também já foi identificada no genoma. Cientistas da Universidade de Ottawa, no Canadá, descobriram que pacientes portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina, o neurotransmissor que causa sensação de bem-estar, apresentavam duas vezes mais risco de cometer suicídio.

A descoberta de genes que influenciam aspectos específicos da vida é o que há de mais novo na genética do comportamento. Grande parte das características humanas, porém, é produto de muitos genes - e não de apenas um, como ocorre com a maioria dos traços físicos e doenças. .

A psicóloga americana Judith Rich Harris foi uma das primeiras pesquisadoras a tentar medir a importância da genética, da família, do círculo de amizades e das experiências pessoais na formação da personalidade. No seu livro No Two Alike (Não Há Dois Iguais) Judith diz que a genética é responsável por no mínimo 40% do que somos. Em segundo lugar vêm os amigos, a maior influência que recebemos. Por último, a família. A maneira como somos vistos por nossos amigos faz com que passemos a investir em determinados comportamentos. Se o grupo costuma rir das brincadeiras de uma criança, ela se percebe como uma pessoa divertida e tenta repetir esse jeito de ser, incorporando-o para o resto da vida.

Nem todos os traços de personalidade, porém, sofrem influência tão marcante das experiências pessoais. Já se comprovou que o desenvolvimento da inteligência depende em grande parte de um ambiente familiar que a estimule. Os geneticistas estimam que, em duas décadas, será possível rastrear regiões genômicas em quantidade suficiente para conseguir mais do que pistas sobre a influência dos genes no comportamento. Graças à associação da psicologia e da genética, está aberto o caminho para elucidar a anatomia da personalidade.

INICIATIVAS

O NOSSO SENTIMENTO DO "eu"

Num mundo cada vez populoso, com muitas cidades onde vivem mais de 10 milhões de habitantes, onde os estilos de vida, os hábitos de consumo e as rotinas tornam a vida das pessoas por vezes muito semelhantes entre si a questão da nossa IDENTIDADE (quem somos) e do nosso EU coloca-se cada vez mais.
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Nas sociedades muito estruturadas e organizadas, onde a Identidade das pessoas se traduz por números (do cartão de identidade, do passaporte, dos serviços de saúde, das finanças, da licença de condução, etc.), os indivíduos tendem a sentir-se desvalorizados na sua pessoalidade.
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"Actualmente, e em função das vertiginosas mudanças que se sucedem no âmbito sociopolítico-económico, a Identidade passou a ser uma preocupação de primeiro plano para todos em excepção. Cada um necessita interrogar-se muitas vezes sobre quem realmente é" - escrevem os psicanalistas espanhóis Léon e Rebeca Grinberg em "Identidade e Mudança" (ed.Climepsi, 1998).
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O sentimento de Identidade é, na verdade, o conhecimento de cada pessoa de que é uma endidade única, separada e distinta dos outros. A pessoa reconhece-se em torno da consciência do Eu, a qual inclui o corpo, a mente, as suas memórias, os seus saberes e todos os aspectos particulares de si mesmo e da sua história pessoal, incluindo a intrapsíquica.
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Este sentimento de Identidade e de identificação com os elementos que constituem a pessoa deve manter-se ao longo de toda a vida, mesmo sabendo-se que há mudanças, por vezes profundas, que alteram o seu aspecto e a sua expressão (físico, comportamental, etc.). Ou seja a pessoa deve sentir que é a mesma tanto com 10 anos de idade como com 50 anos. Deve haver um sentimento de continuidade e de unicidade em simultâneo com um sentimento de diferenciação relativamente a todos os outros indivíduos.
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Quando o sentimento de identidade se dilui
Em muitos casos clínicos patológicos observam-se perturbações de identidade. Nuns casos, identidades rígidas e pouco flexíveis. Noutros casos, identidades excessivamente débeis e fragmentadas.
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Estados esquizóides, estados de despersonalização, estados confusionais, estados senis, certas formas de esquizofrenia, paranóia e outras perturbações traduzem-se por problemas que afectam de uma maneira ou de outra a identidade.
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No centro de tudo isto reside o sentimento do EU. A noção do EU representa a "súmula dos sentimentos, emoções, impulsos, desejos, capacidades, talentos e fantasias do indivíduo, ou seja, todas essas forças e formações psíquicas que uma pessoa identifica como algo que lhe é próprio e lhe dá a sensação de "este sou eu" - clarifica P.Heimann (1951). Assim, a palavra EU "denota um conjunto de processos psicológicos tais como pensar, perceber, recordar e sentir". O EU é um sistema psíquico. É ele quem organiza e regula o Self, algo mais complexo.
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O self é um conceito intermédio colocado entre a psíque do indivíduo e a sua relação com os outros: o chamado self, sinónimo de personalidade. O self significa a pessoa total do indivíduo, incluindo o corpo e psique. E também inclui o conceito conhecido como Não Eu (aspectos intrapsíquicos da pessoa como o Super Eu).
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Toda esta complexidade da vida psíquica processa-se em dois grandes níveis: o consciente e o inconsciente. Neste, estão incluídos todos os fenómenos submersos da história intrapsíquica e nos processos de construção da mente (memória, emoções, pensamentos, etc.). Naquele, o consciente, processa-se o fenómeno da Consciência do Eu ou Autoconsciência, melhor ainda, a consciência da identidade psicossocial da personalidade, a consciência da capacidade de pensar e da governação dessa capacidade e a consciência da vida mental.

10 IDEIAS para você se sentir bem!


1. Dedique 10 minutos todos os dias para pensar em SI, na sua maneira ser e estar na vida, exercitando o seu auto-conhecimento, procurando fragilidades e redescobrir forças e talentos há muito não usados.

2. Aplique 5 minutos todos os dias para se soltar, deixar sair a criança que há em si (brinque com seus filhos, cante, desenhe figurinhas, escreva um poema a seu cônjugue ou a seus filhos, ou outras actividades semelhantes).

3. Reserve uma hora por dia (à noite, por exemplo) para LER um bom livro ou VER um bom filme ou programa de TV (isto implica que não fique a ver telenovela ou programinhos feitos para grangear audiências).

4. Páre 10 vezes por dia para fechar os olhos e descansar sua visão durante um minuto. Se for chefe ou empresário, convide seus colaboradores a aplicar essa técnica para relaxar os olhos e o pensamento (com olhos fechados, o cérebro gera mais ondas elétricas alfa que o ajudam a descansar).

5. Por cada 2 horas de trabalho consecutivas faça uma pausa de 10 minutos. Saia de seu lugar, vá conversar com um colega, olhe pela janela, deixe que a sua visão se estenda pela paisagem. Se puder, saia para a rua, dê um pequeno passeio descontraído. Seu stress desce e fica pronto para mais uma etapa de 2 horas. A sua produtividade vai aumentar. E vai ganhar tempo e saúde!

6. Por cada hora de trabalho na secretária ou no computador páre para distender seus braços e músculos do pescoço; evitará muitas dores nas costas, enxaquecas e pressão.

7. Seja um pessoa legal! Diga BOM DIA com entusiasmo e um sorriso. Diga a toda a gente que se cruzar com você, até estranhos. Faça-o com elegância e moderação para que sua saudação seja aceite como gesto de simpatia! As suas emoções vão ficar mais serenas e se sentirá feliz por saudar vivamente as outras pessoas.

8. Definitivamente, se ainda não o fez, cuide de sua dieta. Obrigue-se a ingerir alimentos variados e saudáveis. Diga NÃO a comida salgada ou muito doce. Beba água ou sucos naturais. Seu corpo e sua mente vão desintoxicar e aumentar sua capacidade de resolução de problemas. Sua saúde geral vai também aumentar.

9. Respire bem! Faça exercício todo o ano, pratique jogging, marcha ou frequente um ginásio. Duas ou três vezes por dia faça exercícios suaves de inspiração e expiração para aumentar sua vivacidade. O cérebro necessita que você respire bem. É vital!

10. Treine as suas capacidades emocionais e aptidões sociais. Dedique-se a causas em que você e os outros possam beneficiar do contacto. Participe em foruns, inscreva-se num clube cultural, exercite a amizade com quem gostar.

DEPRESSÃO ALASTRA NO MUNDO!

O alcoolismo, os transtornos bipolares e a esquizofrenia, além da depressão, representaram as principais doenças classificadas no grupo de distúrbios mentais.

Dos dez principais males que afectam a população mundial de 15 a 44 anos, quatro estão associados a distúrbios mentais. As mulheres são as mais atingidas, mas não existe uma explicação científica definitiva para o facto.

Estima-se em 2 milhões o número de casos novos de depressão, no mundo, a cada ano. Cerca de 330 milhões de pessoas sofrem de algum tipo de distúrbio mental e oito em cada dez doentes diagnosticados poderiam livrar-se do mal por meio de terapia medicamentosa, associada a atendimento psiquiátrico.

Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, em 1996, 120 milhões de pessoas sofriam de alcoolismo no mundo e 103 mil morreram por motivos relacionados à doença. Mesmo proibido para menores, a ingestão de álcool por adolescentes tem crescido nos últimos anos. Dentre os que consomem álcool cerca de 20 vezes por mês a taxa aumentou em dez anos de 8% para 12%. Calcula-se que a depressão acfeta 20% da população mundial.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os distúrbios de humor, incluindo a depressão, devem acfetar cerca de 340 milhões de pessoas nos próximos anos. No ano 2020, segundo a OMS, a depressão será o principal distúrbio mental a atingir a população dos países em desenvolvimento.

NEUROSE E INSEGURANÇA

Segundo o psiquiatra Dr. G.J.Ballone, trata-se de uma reacção exagerada do sistema nervoso em relação a uma experiência vivida (Reacção Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida.

A pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica. Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reacções vivenciais não normais; seja no sentido dessas reacções serem desproporcionais, seja pelo facto de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo que não exista uma causa vivencial aparente.

Segundo aquele especialista essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adoptar uma série de comportamentos (evita lugares, faz atitudes para alívio da ansiedade... etc).

O neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo. Exemplos:

1 - Diante de um compromisso social a pessoa neurótica reage com muita ansiedade, mais que a maioria das pessoas submetidas à mesma situação (desproporcional). Diante desse mesmo compromisso social a pessoa começa a ficar muito ansiosa uma semana antes (muito duradoura) ou, finalmente, a pessoa fica ansiosa só de imaginar que terá um compromisso social (sem causa aparente).

2 - Num determinado ambiente (autocarro, elevador, avião, no meio a multidão, etc) a pessoa neurótica começa a passar mal, achando que vai acontecer alguma coisa (desproporcional). Ou começa a passar mal só de saber que terá de enfrentar a tal situação (sem causa aparente).

A neurose cura-se? A neurose está muito dependente da personalidade da pessoa, das experiências de vida e do ambiente dentro do qual se movimenta. Ela poderá reaprender a lidar com as situações que habitualmente lhe provocam estados de ansiedade e insegurança. Ela terá de iniciar um processo de mudança e transformação que a protejam de sentir de forma desmesurada os diferentes acontecimentos da vida.